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APÊNDICE Nº 2: A MORTIFICAÇÃO DA CARNE

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Precisamos mortificar a carne para chegar aos céus.

Texto áureo

“Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, o apetite desordenado, a vil concupiscência e a avareza, que é idolatria;” (Cl.3:5).

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INTRODUÇÃO

– Em outro apêndice ao trimestre, faremos um sucinto estudo sobre a mortificação da carne, este processo indispensável para que produzamos o fruto do Espírito e não pratiquemos as obras da carne.

– Precisamos mortificar a carne para chegar aos céus.

I – A MORTIFICAÇÃO DA CARNE

– Estamos a estudar neste trimestre a respeito das obras da carne e do fruto do Espírito, aprendendo que o verdadeiro salvo, aquele que crê em Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, prova esta sua salvação, prova que é uma nova criatura porque produz o fruto do Espírito. Como disse o Senhor Jesus: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.7:16,20).

– Quando cremos no Senhor Jesus, nascemos de novo, temos os nossos pecados retirados e passamos a ter comunhão novamente com Deus, através do nosso espírito, sede da nossa consciência e da fé, que passa a ser um com o Espírito Santo, tornando-nos templo do Espírito Santo (I Co.6:19) bem como morada do Pai e do Filho (Jo.14:23), cumprindo, assim, o objetivo da missão salvífica de Cristo, que é tornarmos um com Deus (Jo.17:21).

– Esta “nova criatura” (II Co.5:17; Gl.6:15) não elimina o “velho homem” (Rm.6:6; Ef.4:22; Cl.3:9), que é o homem natural, gerado segundo a imagem e semelhança de Adão (Gn.5:3), gerado sob o domínio do pecado (Sl.51:5), que possui uma natureza pecaminosa, denominada de “carne”, que o fará pecar inevitavelmente quando ele adquire a consciência.

– Em virtude disto, quando alguém é salvo, dá início a uma “verdadeira batalha espiritual”, como diz o subtítulo de nosso trimestre letivo, pois passa a existir, no interior de cada salvo, um conflito entre a carne e o espírito, um se opondo ao outro (Gl.5:17).

OBS: Como afirma o cardeal romanista belga Desidério José Mercier (1851-1926), cujo ensino, por sua biblicidade, aqui reproduzimos: “…A Escritura logo chama esta tripla concupiscência de “homem velho“, oposto ao “homem novo” que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como “carne” ou natureza caída, oposta ao “espírito” ou natureza regenerada pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral. A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação.…” (A prática da mortificação cristã. Disponível em: http://www.fsspx.com.br/a-pratica-da-mortificacao-crista/ Acesso em 22 dez. 2016).

– Para vencermos esta luta e mantermos a nossa comunhão com Deus, é necessário que, nesta luta, o espírito seja vitorioso e a carne, derrotada. Para tanto, necessário que se tenha o que as Escrituras denominaram de “mortificação da carne e vivificação do Espírito”. Diz o apóstolo Paulo aos gálatas: “Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne” (Gl.5:16). O mesmo repete o apóstolo ao escrever aos crentes de Roma: “Portanto agora nenhuma condenação há para que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito(…). Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm.8:1,9).

– Como diz o pastor e escritor norte-americano John MacArthur (1939- ): “…Os cristãos têm uma obrigação — não para com a carne, mas em relação ao novo princípio de justiça personificado no Espírito Santo. Eles lutam, pelo poder do Espírito Santo, para mortificar o pecado na carne — “para mortificardes os feitos do corpo”. Se você estiver fazendo isso, ele diz, “[viverás]” ( Rm 8.13).…” (O que é mortificação. Disponível em: https://bereianos.blogspot.com.br/2011/03/o-que-e-mortificacao.html Acesso em 22 dez. 2016).

– João Calvino identifica a mortificação da carne como o próprio arrependimento dos pecados e a sua sequência na vida cristã, como, por exemplo, neste trecho de suas Instituições da Religião Cristã: “…o arrependimento consta de duas partes, a saber: da mortificação da carne e da vivificação do Espírito. Isto, contudo, ainda que um pouco simples e vulgarmente de acordo com a capacidade e mentalidade do povo, o expõem com toda clareza os profetas, quando dizem: “Desiste do mal e faz o bem” [Sl 34.14; 37.27]; de igual modo: “Lavai-vos, sede limpos, removei de meus olhos o mal de vossas obras. Cessai de agir perversamente, aprendei a fazer o bem, buscai o juízo, vinde em socorro do oprimido” etc. [Is 1.16, 17].

Pois, quando mandam o homem retroceder da maldade, em seguida exigem a mortificação de toda a carne, a qual está saturada de maldade e de perversidade. Coisa mui difícil e árdua é despir-nos de nós mesmos e apartar-nos de nossa disposição natural. Ora, não se deve julgar que a carne já foi bem mortificada, a não ser que tenha sido abolido tudo quanto temos de nós próprios.

Como, porém, todo afeto da carne é inimizade contra Deus [Rm 8.7], o primeiro passo para a obediência de sua lei é essa renúncia de nossa natureza.(…) Com efeito, a própria palavra mortificação nos adverte de quão difícil é esquecer a natureza antiga, porque daqui inferimos que, não de outra maneira, somos conformados ao temor de Deus e aprendemos os rudimentos da piedade, mas também que, violentamente imolados pela espada do Espírito, somos reduzidos a nada. Como se Deus declarasse que, para que sejamos contados entre seus filhos, é necessário que nossa comum natureza seja destruída!…” (v.3, Livro III, cap.III, p.76/7).

– Na verdade, nas Escrituras, encontramos algumas passagens a respeito desta necessária mortificação. As palavras “mortificação” e “mortificar” são traduções de duas palavras gregas: “thanatóo” (ϑανατόω) e “nekróo” (νεκρόω). Ambas significam “matar”, sendo que o primeiro verbo, segundo a Bíblia de Estudo Palavra-Chave, tenha o significado de “ficar morto, fazer com que alguém seja condenado à morte, matar, mortificar”, enquanto que o segundo tem o significado de “amortecer, subjugar, estar morto, mortificar”.

– Conforme já dissemos, as Escrituras diz que devemos “andar em Espírito” para que não venhamos a permitir a prevalência da carne em nossas vidas. Em Rm.8:13, é dito que, “pelo espírito” devemos mortificar as obras do corpo.

– Mortificar as obras do corpo “pelo espírito” nada mais é que “estar em Cristo em nós”, como salienta o apóstolo neste capítulo 8 de Romanos (Rm.8:1,9-13). Ora, para que Cristo esteja em nós, é preciso que o Espírito Santo esteja em nós, e isto nos leva à necessidade de estarmos separados do pecado, em santidade, vivendo de acordo com a vontade do Senhor, apartados de toda a “concupiscência da carne”. Devemos estar totalmente entregues ao Senhor Jesus, vivendo para Ele, renunciando a nós mesmos. Devemos estar nos santificando a cada instante e cada vez mais, como se recomenda em Ap.22:11.

– John Owen (1616-1683), grande teólogo inglês, que tem uma obra clássica a respeito deste tema, viu nesta entrega a Cristo, nesta nossa posição “em Jesus”, o pilar, a base de toda a mortificação. Disse ele: “…Sem esta mortificação inicial e radical, realizada mediante união com Jesus Cristo, como descrita em Romanos, capítulo 6 (no próximo capítulo diremos mais sobre isto), uma pessoa não pode fazer progresso na mortificação de um único desejo mau. Uma pessoa pode dar pauladas no mau fruto de uma árvore má até ficar esgotada, porém enquanto a raiz permanecer forte e vigorosa nenhum grau de espancamento impedirá que a raiz produza mais frutos maus.

Esta é a tolice que muitas pessoas praticam quando se dispõem com todo fervor a quebrar o poder de qualquer pecado em particular, sem realmente atacar e ferir a raiz do pecado (como acontece quando um cristão é unido a Jesus Cristo).…” (Enfraquecendo a raiz do desejo mau. Disponível em: http://2timoteo316.blogspot.com.br/2012/11/enfraquecendo-raiz-do-desejo-mau.html Acesso em 23 dez. 2016).

– Esta santificação contínua é confirmada no texto de II Co.4:10, que diz que devemos “trazer sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos”, ou, seja, “andar em Espírito” nada mais é que, em “toda parte”, impedir que o “velho homem”, que continua existindo em nós, mesmo após a nossa salvação, venha a predominar novamente em nossas ações e atitudes.

– Em Cl.3:5-9, o apóstolo Paulo é ainda mais preciso, ao dizer que esta mortificação ocorre quando abandonamos e não permitimos que o nosso corpo seja instrumento de prostituição, impureza, apetite desordenado, vil concupiscência, avareza, ira, cólera, malícia, maledicência, palavras torpes da boca e mentira.

– Por fim, em I Pe.3:18, o apóstolo Pedro nos mostra que Jesus, enquanto esteve entre nós, assumiu o nosso lugar, a fim de que a mortificação da carne e a vivificação do Espírito se fizesse possível em nós.

– Diante da realidade de que a carne não desaparece de nosso ser quando cremos em Jesus, torna-se necessário que operemos a sua “mortificação”, ou seja, que ela deixe de “dar frutos”, seja neutralizada, torne-se “estéril”, a fim de que possamos nos aproximar cada vez mais de Deus e alcançar o estágio final de nossa salvação, que é a glorificação.

OBS: John Owen fala desta realidade: “…Mortificar o pecado não é destruí-lo completamente e erradicá-lo do coração. É certo dizermos que esse é o alvo da mortificação, no entanto trata-se de um alvo que não atingiremos nesta vida. Não há dúvida de que o cristão pode esperar triunfos maravilhosos sobre o pecado com a ajuda do Espírito e da graça de Cristo, e isso, de tal maneira que ele pode obter vitória quase constante sobre o pecado. Contudo, não deve esperar a destruição total e a erradicação do pecado nesta vida. Paulo nos assegura disso em Filipenses, capítulo 3. Paulo sabia que a despeito de tudo o que havia alcançado, ainda não era perfeito (v. 12).

Este conhecimento não impediu que “um corpo de humilhação” (ou seja, um corpo que ainda tem o pecado habitando nele) fosse transformado pelo poder de Cristo na Sua volta (v. 21). Deus opera para que por nós mesmos não sejamos completos em coisa alguma, a fim de que em todas as coisas sejamos completos em Cristo (Col. 2:10).…” (Cinco coisas que a mortificação não significa. Disponível em: http://2timoteo316.blogspot.com.br/2010/12/cinco-coisas-que-mortificacao-nao.html Acesso em 23 dez. 2016).

– Neste sentido, aliás, é oportuno lembrar-nos lição de Orígenes (185-254), pai da Igreja, que, dentro de sua forma alegórica de interpretar as Escrituras, fez uma analogia entre a morte de Cristo e a mortificação do cristão. Para Orígenes, “ a morte é uma obra presente enquanto a vida é algo futuro”. Eis a analogia deste pai da Igreja: “…Em Cristo, era o momento da morte, quando se diz: E Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito (Mt 27,50). Em seguida, houve o momento em que, enterrado, Ele jazeu enquanto a porta estava fechada. Então, quando se veio procurá-l’O

na tumba, e não O encontraram, porque ele já tinha ressuscitado, ressurreição da qual ninguém pôde ver o início. Também conosco, que cremos n’Ele, temos de encontrar este nível triplo de morte. Primeiro, a confissão em palavras, a morte de Cristo deve ser mostrada em nós, quando a pessoa que crê do fundo de seu coração, torna-se justo e, com a boca, afirma a sua fé para salvação (Romanos 10:10) .

Em segundo lugar, fazendo morrer em nós o que ainda pertence à terra (Col 3,5), uma vez que, em todos os lugares, devemos suportar em nosso corpo a morte de Jesus (2 Coríntios 4:10) e é nesse sentido que, para Paulo, a morte está agindo em nós. Em terceiro lugar, quando ressuscitarmos dos mortos e levarmos uma vida nova (Rm 6.4). E para explicar de uma forma breve e clara: o primeiro dia da morte, isto é, renunciar ao mundo; o segundo dia, ter desistido ainda mais dos vícios da carne e alcançar a plenitude da perfeição, à luz da sabedoria, é o terceiro dia da ressurreição.

No entanto, estes passos, em cada um dos crentes, e os progressos sucessivos, podem-se conhecer e perceber somente por Aquele que lê os segredos do coração.…” (Comentário sobre a Carta aos Romanos, 5, 10, PG 14, 1048-1052. Cit. Cl.3:5-17. Homiliário patrístico, n. 93. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 22 dez. 2016) (tradução nossa de texto em francês).

– Vê-se, portanto, dentro desta analogia de Orígenes, que o período mais longo da vida espiritual sobre a face da Terra é, precisamente, o da mortificação do pecado, onde se “devem deixar cada vez mais os vícios da carne”, o segundo dia da ressurreição, precisamente o dia em que, de modo completo (era o sábado, o dia do repouso), o Senhor ficou sepultado. Com efeito, se a primeira mortificação ocorre no momento da salvação, que é confirmado com o batismo nas águas, e a terceira, no instante da glorificação, que se dará no arrebatamento da Igreja, num “abrir e fechar de olhos” (I Co.15:52), a “segunda mortificação” ocorre entre a conversão e a passagem para a eternidade, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja. É a mais longa etapa do processo de salvação, a chamada “santificação progressiva”.

– João Calvino, também, afirma que a mortificação é um processo contínuo e temporalmente longo: “…Portanto, mediante esta regeneração, somos pela mercê de Cristo restaurados à justiça de Deus, da qual havíamos decaído através de Adão, modo pelo qual ao Senhor agrada restaurar integralmente a todos quantos adota para a herança da vida. E esta restauração, na verdade, não se consuma em um momento, ou em um dia, ou em um ano; antes, através de avanços contínuos, ainda que amiúde de fato lentos, Deus destrói em seus eleitos as corrupções da carne, os limpa de sua imundície e a si os consagra por templos, renovando-lhes todos os sentimentos à verdadeira pureza, para que se exercitem no arrependimento toda sua vida e saibam que não há nenhum fim para esta luta senão na morte.(…) Ao afirmar que Deus restaura em nós sua imagem, não nego que o faça progressivamente; mas que, à medida que cada um avança, se aproxima mais da semelhança de Deus, e que tanto mais resplandece nele essa imagem de Deus [2Co 4.16]. Para que os fiéis cheguem a este ponto, Deus lhes assinala o caminho do arrependimento pelo qual percorram pela vida inteira.…( Instituições da Religião Cristã, v.3, Livro III, cap.III, pp.77/8).

– Em outra feliz analogia, o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), compara os momentos da paixão e morte de Cristo com o nosso processo de mortificação da carne. Ei-la: “…Vejo, agora, um paralelo entre minha experiência com referência ao pecado e os detalhes da crucificação de Cristo. Enviaram Judas ao jardim para procurar nosso grande Substituto e, da mesma forma, comecei a procurar o pecado, mesmo estando ele oculto na espessa escuridão da minha alma. Eu era ignorante e não sabia o que era pecado, pois era noite em toda a minha alma, mas sendo despertado para destruir o mal, meu espírito de arrependimento emprestou lanternas e tochas e saiu como contra um ladrão. Eu procurei no jardim do meu coração de um lado para o outro, com um ardor intenso para descobrir cada pecado. E eu trouxe Deus para me ajudar, dizendo: “Busca-me, ó Deus, e prova-me, e conhece os meus caminhos”. Tampouco cessei até que eu tivesse espiado minhas transgressões secretas. Esta busca interna é uma das minhas mais constantes ocupações. Eu patrulho minha natureza completamente para tentar e prender estes criminosos, estes pecados repugnantes, para que sejam crucificados com Cristo. Ó vós, em quem a iniquidade se esconde sob a cobertura de vossa Ignorância, despertai-vos e a um escrutínio rigoroso de vossa natureza e não mais suporteis que vossos corações sejam os lugares escondidos do mal. Lembro-me quando encontrei o meu pecado. Quando o encontrei, eu o peguei e o arrastei para o tribunal. Ah, meus irmãos, vocês sabem quando isso ocorreu a vocês – e como severo foi o juízo que a consciência deu. Sentei-me no julgamento de mim mesmo. Eu levei meu pecado para um Tribunal e para um outro. Eu olhei para ele como diante os homens e tremia e pensar que a maldade do meu exemplo poderia ter arruinado almas de outros homens. Eu olhei para o meu pecado como diante de Deus e eu tive repugnância de mim mesmo no pó e na cinza.

O meu pecado era tão vermelho como o carmesim à Sua vista e na minha também. Eu julguei o meu pecado e eu o condenei – condenei-o como um criminoso à morte de um criminoso. Ouvi uma voz dentro de mim que, como Pilatos, implorou por ele – “Vou castigá-lo e deixá-lo ir. Deixem que seja envergonhado apenas um pouco. Não permita que a ação errada seja feita muito frequentemente.

 Deixe a luxúria ser reprimida mas mantida.” Mas, ah, minha alma disse: “Que seja crucificado. Deixe isso ser crucificado” E nada poderia demover meu coração desta intenção, que eu mataria todos os assassinos de Cristo, se possível, e nenhum deles escaparia, porque a minha alma os odiava com um ódio mortal e com prazer os pregaria a todos no madeiro. Lembro-me também de como comecei a ver a vergonha do pecado.

Como meu Senhor foi cuspido, ridicularizado e maltratado, assim também minha alma começou a derramar desprezo sobre todo o orgulho do pecado, desprezar suas promessas de prazer e acusá-lo de mil crimes. Tinha me enganado. Tinha me levado à ruína. Ele quase me destruiu. Eu desprezava, e derramava desprezo sobre seus subornos, e tudo o que ele oferecia de doçura e de prazer. Ó pecado, quão vergonhoso pareceu ser! Eu vi tudo o que é básico, medíocre e desprezível

concentrado em você. Meu coração flagelou o pecado pelo arrependimento, feriu-o com repreensões, e o golpeou com autonegação. Então foi feito um opróbrio e um desprezo. Mas isso não bastaria – o pecado deveria morrer. Meu coração lamentou o que o pecado tinha feito e eu estava resolvido a vingar a morte do meu Senhor sobre mim mesmo.(…) Então eu levei os meus pecados para o lugar da crucificação.

Eles teriam escapado com prazer, mas o poder de Deus os impediu e, como uma escolta de soldados, conduziu-os o patíbulo da mortificação. A mão do Senhor esteve presente e Seu Espírito revelador despojou meu pecado enquanto Cristo era despojado. Ele colocou perante os meus olhos até o meu pecado secreto à luz do Seu semblante. Oh, que espetáculo foi quando eu olhei para ele!

Eu já tinha olhado, antes, sobre o seu vestuário delicado e as cores com que se pintou para fazê-lo parecer tão justo como Jezabel, quando ela pintou seu rosto. Mas agora eu vi a sua nudez e horror – e eu estava quase me desesperando.

Mas meu espírito me aborreceu, porque eu sabia que eu fui perdoado, e disse: “Cristo Jesus me perdoou, porque creio n’Ele. E eu farei morrer a carne crucificando- em sua cruz. “A pressão dos cravos, eu me lembro, e como a carne lutou para manter sua liberdade.

Um, dois, três, quatro – os cravos entraram e prenderam a maldita coisa ao madeiro com Cristo, para que não pudesse nem correr nem governar – e agora, glória a Deus, embora meu pecado não esteja morto, está crucificado e deve morrer no devido tempo. Ele se mantém lá. Eu posso vê-lo sangrando. Às vezes, ele luta para descer e tenta arrancar os cravos, porque quer ir atrás da vaidade.

Mas os cravos sagrados o mantêm tão presos – ele está ao alcance da morte e não pode escapar. Infelizmente, morre uma morte prolongada, acompanhado com muita dor e lutando. Mas morre continuamente.

 E logo seu coração será perfurado com a lança do amor de Cristo e ela expirará completamente. Então nossa natureza imortal não mais será sobrecarregada com o corpo desta morte, mas, puro e imaculado, ele se levantará e contemplará a face de Deus para sempre.…” (Srs. Moody e Sankey defendidos ou Uma vindicação da doutrina da justificação pela fé. Sermão pregado no Tabernáculo Metropolitano em Newington. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols19-21/chs1239.pdf Acesso em 22 dez. 2016).

– Martin Lloyd Jones, citado por John MacArthur, também mostra que este processo de mortificação é contínuo: “…Paulo não promete uma libertação imediata do assédio do pecado. Não descreve uma crise momentânea de santificação, quando o crente imediatamente se tornaria perfeito. Ele não diz aos romanos para deixarem as coisas na mão de Deus enquanto eles não fazem nada. Não sugere que uma “decisão em momento crítico” resolverá a questão de uma vez para sempre.

Ao contrário, ele fala de uma luta contínua com o pecado, que devemos, de forma persistente e perpétua, “mortificar os feitos do corpo”.…” (MacARTHUR, John. O que é mortificação? end.cit).

– A “mortificação da carne” nada mais é que a “crucificação da nossa velha natureza” na cruz de Cristo. Reconhecendo que Deus Se fez pecado por nós, na pessoa de Cristo, nós tomamos Jesus para nós e cravamos nossos pecados na cruz, mantendo-o preso para que não mais domine sobre nós. Através desta “crucificação das paixões e concupiscências” da carne (Gl.5:24), a carne foi morrendo aos poucos, “esvaindo-se em sangue” como disse Spurgeon, enquanto que o espírito vai se fortalecendo a cada dia, pois ele é vivificado através dos meios de santificação.

OBS: “…Pense num homem pregado numa cruz. A princípio o homem se esforçará, lutará e clamará com grande intensidade e poder.

Depois de certo tempo, à medida em que vai perdendo sangue, seus esforços se tornam fracos e seus gritos baixos e roucos. Da mesma maneira, quando um homem se propõe a cumprir seu dever de mortificar o pecado, há uma luta violenta; todavia à medida em que a força e a energia do desejo mau se esvai, seus esforços e gritos diminuem.

 A mortificação radical e inicial do pecado é descrita em Romanos, capítulo 6, e especialmente no versículo 6:”Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso velho homem” – para qual propósito? – “para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como escravos”. Sem esta mortificação inicial e radical, realizada mediante união com Jesus Cristo, como descrita em Romanos, capítulo 6 (no próximo capítulo diremos mais sobre isto), uma pessoa não pode fazer progresso na mortificação de um único desejo mau. Uma pessoa pode dar pauladas no mau fruto de uma árvore má até ficar esgotada, porém enquanto a raiz permanecer forte e vigorosa nenhum grau de espancamento impedirá que a raiz produza mais frutos maus. Esta é a tolice que muitas pessoas praticam quando se dispõem com todo fervor a quebrar o poder de qualquer pecado em particular, sem realmente atacar e ferir a raiz do pecado (como acontece quando um cristão é unido a Jesus Cristo).…” (OWEN, John. Cristo: a mortificação do pecado. Disponível em: http://2timoteo316.blogspot.com.br/2013/10/cristo-mortificacao-do-pecado.html Acesso em 23 dez. 2016).

– Jesus cravou a cédula que, de alguma forma, era contra nós na cruz (Cl.2:14), ou seja, o pecado, que nos impedia de ter comunhão com o Senhor (Is.59:2) e agora, nós devemos, também, cravar os nossos pecados na cruz, a nossa velha natureza, raiz de todos os pecados, na cruz de Cristo, para que possamos desfrutar da vida eterna. É um gesto nosso levarmos até a cruz a nossa velha natureza. Ao mesmo tempo em que aderimos a Cristo, cremos n’Ele, depositamos nossa carne na Sua cruz, para que ali ela seja crucificada e ali mantida até o dia em que ela será totalmente destruída, quando ingressarmos no reino de Deus, pois a carne não pode herdá-lo (I Co.15:50).

– Nosso espírito, em união com o Espírito Santo, faz com que crucifiquemos a carne na cruz de Cristo. Não é algo que possamos fazê-lo com nossas próprias forças, mas, como maior é o que está conosco do que o que está no mundo (I Jo.4:4).

OBS: Agostinho bem explica que se trata de atuação do nosso espírito, impelido pelo Espírito Santo: “…Não pense que, de fato, estas palavras “a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne”, trate-se unicamente do espírito do homem.

É o Espírito de Deus, que combate em você contra o que está em você e se opõe a você mesmo. Você não quis ficar ligado ao Senhor; caiu, quebrou como um vaso que escapa de sua mão e que fica em pedaços. E é porque você quebrou que você é tão inimigo de si mesmo, oposto a si mesmo.

Destrua esta oposição e você vai ser restaurado. Para fazer você entender que esta restauração deve ser obra do Espírito Santo, o mesmo Apóstolo diz em outro lugar: “Se você viver segundo a carne, morrereis; mas se você mortificar pelo Espírito as obras da carne, vivereis”.

Com essas palavras, o homem já se eleva, acredita capaz de mortificar pelo seu próprio espírito as obras da carne. “Se você viver segundo a carne, morrereis; mas se você mortificar pelo Espírito as obras da carne, vivereis “. Então deixe-nos saber, ó Apóstolo, de que espírito se fala aqui.

Na verdade, cada um tem um espírito natural que o caracteriza, e é esse espírito que faz o homem, porque o homem é composto de corpo e espírito. É deste espírito que se diz “Ninguém sabe o que está no homem, senão o espírito do homem que nele está (2 Cor 2,11)”.

Assim, o homem tem uma espírito que faz parte de sua natureza, e é você que ainda diz: “Se você mortificar as obras da carne pelo espírito”, você vai viver”. O que é este espírito? É o meu espírito ou o Espírito de Deus? Eu escuto você e continuo em suspense. O que estou dizendo? A palavra espírito não se aplica apenas ao homem, ele também disse animais na mesma Escritura; não li que o dilúvio destruiu toda a carne tendo em si o espírito da vida (Gn 6,17; Gn 7,22). É verdade que esta expressão é para animais, assim como para seres humanos. Às vezes, o vento também é designado pelo mesmo nome de espírito.

Assim, lemos em Salmos: “Espírito do fogo, granizo, neve, gelo, tempestades (Sl 148,8)” A palavra tem tantos significados diferentes. Em que sentido, ó Apóstolo, você disse que pelo espírito devem morrer as obras da carne?

É aqui o meu espírito ou o Espírito de Deus? Ouça o que é conhecido e você vai entender, como o Apóstolo acrescenta palavras que resolvem a questão. Após estas palavras: “Se pelo Espírito mortificar as obras da carne, vivereis”, escreveu ele imediatamente: “Pois aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus (Rm 8: 13-14).

 “Para agir, você precisa ser animado, e você age bem se você está animado por um espírito bom. Então, se você não entende que espírito está em causa com estas palavras: ” Pelo Espírito mortificar as obras da carne, vivereis”, veja o seu Mestre, reconheça o seu Redentor nas palavras que se seguem.

 É realmente o seu Redentor, que deu o Seu Espírito, para que, por meio dele, você negue as obras da carne. “Pois – Todos aqueles que são animados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”.

Eles não são filhos de Deus se eles não são animados pelo Seu Espírito. Mas, se eles são animados pelo Seu Espírito, eles estão lutando, porque eles têm um poderoso aliado. Ah! Deus não Se contenta em contemplá-los, como as pessoas contemplam os gladiadores.

As pessoas provavelmente podem sem dúvida aplaudir um gladiador, mas não saberão evitar-lhe o risco.…” (Sermão 128 – O combate espiritual(1). Cit. Gl.5:13-26. n. 128. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 22 dez. 2016) (tradução nossa de texto em francês).

– Não é por outro motivo que o proverbista diz que aquele que confessa e deixa, alcança misericórdia (Pv.28:13). Deixar o pecado é, precisamente, levar a carne até a cruz de Cristo e cravá-la na cruz, passando a ter repugnância da “velha natureza”.

É o “despojar-se” do “velho homem” mencionado por Paulo em Ef.4:22 e Cl.3:9, o “negar-se a si mesmo” referido pelo Senhor Jesus (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23). O escritor aos hebreus, aliás, mostra que foi isto que fez o Senhor Jesus que, pelo gozo que Lhe estava proposto, suportou a cruz e, por isso mesmo, devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta, deixando o embaraço e o pecado, que tão de perto nos rodeia (Hb.12:1-3).

– Como afirma John MacArthur: “…Em outras palavras, o crente verdadeiro não é como Saul, que queria mimar e preservar Agague, mas como Samuel que o despedaçou sem mercê e sem demora. Saul pode ter querido fazer de Agague um animal de estimação, mas Samuel sabia que isso era totalmente impossível.

Da mesma maneira, nunca domesticaremos nossa carne. Não podemos afagar nosso pecado.

Devemos tratá-lo com rapidez e de um modo severo. Foi o que disse Jesus: Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno.

 E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para o inferno (Mt 5.29,30).

É óbvio que Jesus não estava falando no sentido literal, embora muitos tenham entendido mal essa passagem. Ninguém menos que o próprio grande teólogo Orígenes castrou-se, num esforço mal orientado de cumprir esse mandamento literalmente. Jesus não estava proclamando a automutilação, mas sim a mortificação dos feitos do corpo.

Mortificação, nas palavras do puritano John Owen significa que a carne, “com [suas] faculdades e propriedades, [sua] sabedoria, astúcia, sutileza, força, deve, segundo o apóstolo, ser morta, afligida, mortificada — isto é, ter seu poder, vida, vigor e força para produzir seus efeitos, afastados pelo Espírito”.…” (O que é mortificação? end. cit.).

OBS: Assim se expressa o comentarista bíblico Matthew Henry: “…“Mortifiquem-nos, isto é, subjuguem os hábitos viciosos da mente que prevaleciam em seu estado gentio. Matem-nos, subjuguem-nos, como vocês fazem com as ervas daninhas ou os bichos que se espalham e destroem tudo que está ao seu redor, ou como vocês matam um inimigo que luta e fere vocês”.

Os vossos membros que estão sobre a terra; ou os membros do corpo, que são as partes terrenas de nós, e foram entretecidos como nas profundezas da terra (SI 139.15), ou os pensamentos corrompidos da mente, que nos levaram para as coisas terrenas, os membros do corpo da morte (Rm 7.24).…” (Comentário bíblico completo – Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Degmar Ribas Júnior. p. 642).

– John Owen definiu a mortificação do pecado como sendo “…o enfraquecimento habitual e bem-sucedido do pecado que envolve a luta e a contenda constante contra a carne, através do Espírito Santo”.

Segundo ele, a mortificação do pecado ou da carne está sujeita a três princípios: 1- Os cristãos diariamente devem trabalhar para mortificar o poder do pecado; 2- Só o Espírito Santo é suficiente para essa obra; 3- A mortificação do pecado gera no cristão vida e bem estar.

– A mortificação da carne, assim entendida, nada mais é que um aspecto da santificação, que foi definida de forma muito próxima por Jacó Armínio (1560-1609), que afirmou que “…Essa santificação não é concluída num único momento; já o pecado de cujo domínio fomos libertados pela cruz e pela morte de Cristo, é enfraquecido, cada vez mais, pelas perdas diárias, e o homem interior é, dia a dia, mais e mais renovado, enquanto levamos conosco, em nossos corpos, a morte de Cristo e, dessa forma, o homem exterior vai perecendo.…” (Setenta e nove debates privados: Debate XLIX – Sobre a santificação do homem. In: As obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas Júnior. v.2, p.110).

II – COMO MORTIFICAR A CARNE

– Entendida o que é a mortificação da carne, devemos, ainda que sucintamente, verificar como podemos fazer isto em nossas vidas, como permitirmos a atuação do Espírito Santo em nosso espírito para que combatamos a velha natureza e cresçamos cada dia em santificação, caminhando rumo a Jerusalém celestial.

– Por primeiro, cumpre observar que não se deve confundir a mortificação da carne com a mortificação do corpo. Carne não se confunde com corpo. Carne é a natureza pecaminosa do homem. O corpo é a parte material do homem, criada por Deus (Gn.2:7) e, portanto, algo que é muito bom (Gn.1:31).

– A expressão do apóstolo Paulo de que se deve mortificar “as obras do corpo” (Rm.8:13) tem levado muitos a entender que a mortificação deve atingir o corpo físico, que o corpo é um mal a ser combatido, o que reduz a vida cristã a uma vida de ascetismo físico, como se estivéssemos aqui reproduzindo doutrinas hinduístas e que, inclusive, influenciaram grandemente o gnosticismo, que foi uma das primeiras heresias a invadir a igreja cristã, ainda nos tempos apostólicos.

– Na verdade, quando o apóstolo Paulo está a falar de “obras do corpo”, está a se referir ao “corpo do pecado”, que nada mais é que a “carne”, a “natureza pecaminosa” do homem. Paulo denomina a carne como “corpo do pecado”, como vemos em Rm.6:6, tanto que, neste mesmo capítulo, o apóstolo dos gentios mostra que o corpo físico pode tanto ser um instrumento de justiça, como instrumento de pecado (Rm.6:13,19), ou seja, o problema não está no corpo físico em si, mas em quem domina a nossa vida: a carne ou o espírito.

OBS: Armínio, aliás, faz questão de dizer que a expressão “corpo do pecado” significa não o corpo físico, mas, sim, o domínio do pecado, ou seja, a “carne”: “…’Miserável homem que eu sou!

Quem me livrará do corpo desta morte?’ Isto é, não deste corpo mortal, mas do domínio do pecado, que aqui ele chama de corpo de morte, como o chama, em outras passagens, de corpo do pecado.…” (Uma dissertação sobre o sentido verdadeiro e genuíno e o sétimo capítulo da epístola aos romanos. In: As obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas Júnior, v.2, p. 215).

– Esta confusão deu origem a toda uma tradição na história da Igreja de “mortificação corporal”, como, por exemplo, na vida monástica e até em movimentos de avivamento espiritual. Assim, passou-se a indevidamente confundir “mortificação da carne” com a “mortificação do corpo”. Se é verdade que, por vezes, a mortificação da carne envolve uma certa mortificação do corpo, como no caso do jejum e da abstinência, não se podem confundir ambas as coisas.

OBS: Na obra “Imitação de Cristo”, de Tomás de Kempis (1380-1471), que serviu de fonte de inspiração para muitos que acabou desaguando na Reforma Protestante, vemos, por exemplo, esta mentalidade, como, por exemplo, nesta passagem:

“…Contempla os salutares exemplos dos Santos Padres, nos quais brilhou a verdadeira perfeição religiosa, e verás quão pouco ou quase nada é o que fazemos.

Ah! Que é a nossa vida em comparação com a deles? Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome e sede, em frio e nudez, em trabalho e fadiga, em vigílias e jejuns, em orações e santas meditações, em perseguições e muitos opróbrios. 2.

Oh! Quantas e quão graves tribulações sofreram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens e todos quantos quiseram seguir as pisadas de Cristo! Odiaram suas almas neste mundo, para possuí-las eternamente no outro. Oh! Que vidas austeras e mortificadas levaram os Santos Padres no deserto!…” (cap.18, p.15. Cópia digital proporcionada por Publicações LCC Eletrônicas).

– Esta ideia da mortificação corporal, inclusive, foi, de certo modo, realçada pelo Romanismo, notadamente após a Reforma Protestante, uma vez que se tratava de um comportamento que abalizava o entendimento romanista a respeito do valor das boas obras na justificação do homem, em atrito com a concepção trazida por Martinho Lutero e onde alcançou realce a chamada “penitência”.

OBS: Eis a mentalidade romanista: “…É preciso deixar muito claro que não é possível construir um “novo” caminho diferente do que indicou Jesus e do que trilharam os Santos. “Mirabilis Deus in sanctis suis”, diz a Vulgata: “Deus é maravilhoso nos Seus santos” [8]. E eles não passaram por outra via senão a da mortificação. Como se explica, por exemplo, que uma Santa Catarina de Sena tenha começado tão cedo a flagelar-se e a fazer jejuns rigorosos [9]? Que, defender a sua pureza São Francisco se tenha revolvido na neve, São Bento se tenha jogado num silvado e São Bernardo tenha mergulhado num tanque gelado?

A chave para todas essas penitências é o amor, que não pode ser vivido neste mundo sem que crucifiquemos a nossa carne. Santo Afonso de Ligório ensina que “ou a alma subjuga o corpo, ou o corpo escraviza a alma”.

São Bernardo respondia aos que zombavam dos penitentes do seguinte modo: “Somos em verdade cruéis para com o nosso corpo, afligindo-o com penitências; porém mais cruéis sois vós contra o vosso, satisfazendo a seus apetites nesta vida, pois assim o condenais juntamente com a vossa alma a padecer infinitamente mais na eternidade”.…” (AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo.

 A mortificação, escada para subir ao Céu. Disponível em: https://padrepauloricardo.org/blog/a-mortificacao-escada-para-subir-ao-ceu Acesso em 22 dez. 2016).

– Lutero, que fora um monge, mostra esta distinção entre mortificação da carne mortificação corporal, embora esta possa ser uma forma de se obter aquela, como vemos, por exemplo, nesta passagem de seu comentário à carta aos gálatas:

“…Os verdadeiros crentes não são hipócritas. Eles crucificam a carne com seus maus desejos e concupiscências. Na medida em que eles não retiraram totalmente a carne pecaminosa, eles estão inclinados a pecar. Eles não temem ou amam a Deus como deveriam. É provável que sejam provocados à raiva, à inveja, à impaciência, à luxúria carnal e a outras emoções. Mas eles não farão as coisas a que a carne as incita.

Eles crucificam a carne com seus maus desejos e concupiscências pelo jejum e exercício e, acima de tudo, por uma caminhada no Espírito. Resistir à carne desta maneira é cravá-la à Cruz. Embora a carne ainda esteja viva, não pode muito bem agir segundo seus desejos, porque está presa e cravada na Cruz.…” ( Disponível em: https://www.iclnet.org/pub/resources/text/wittenberg/luther/gal/web/gal5-14.html Acesso em 21 dez. 2016) (tradução do texto em inglês).

OBS: Justiça seja feita à Igreja Romana que tem feito, também, esta distinção nos tempos atuais, como se verifica nesta afirmação do Papa Paulo VI: “…«A verdadeira penitência não pode ser separada do ascetismo físico.

A necessidade de mortificar a carne manifesta-se se nós consideramos a fragilidade da nossa natureza na que, depois do pecado de Adão, a carne e o espírito têm desejos opostos. Este exercício de mortificação corporal – muito afastado de toda a forma de estoicismo – não implica uma condenação da carne que o Filho de Deus se dignou dar-nos.

Pelo contrário, a mortificação visa a libertação do homem». Constituição Apostolica Paenitemini, 17 de Fevereiro de 1966.…” (O Opus Deis e a mortificação corporal. Disponível em: http://opusdei.pt/pt-pt/article/o-opus-dei-e-a-mortificacao-corporal/ Acess em 22 dez. 2016).

O próprio Catecismo da Igreja Romana faz, também, esta distinção: “Já no homem, tratando-se de um ser composto, espírito corpo, existe certa tensão, desenrola-se certa luta de tendência entre o “espírito” e a carne .

Mas essa luta, de fato, pertence à herança do pecado, é uma consequência dele e, ao mesmo tempo, uma confirmação, e faz parte da experiência do combate espiritual:

Para o Apóstolo, não se trata de discriminar e condenar o corpo que, juntamente com a alma espiritual, constitui a natureza do homem e sua subjetividade pessoal.

Ele quis tratar sobretudo das obras, ou melhor, das disposições estáveis — virtudes, vícios — moralmente boas ou más, que são fruto da submissão (no primeiro caso) ou, pelo contrário, de resistência (no segundo caso) à ação salvífica do Espírito Santo. Por isso o Apóstolo escreve: “Se, portanto, vivemos pelo espírito, caminhemos também segundo o espírito” (Gl 5,25)” (§ 2516 CIC).

– Assim, não devemos dar imenso valor a atitudes consideradas como de “mortificação” mas que estão relacionadas tão somente com a “mortificação corporal”, tão em voga em nossos dias em alguns círculos evangélicos, tais como limitações alimentares, autocontenções de conforto e satisfação, autoflagelações, privação de sono, “jejum de silêncio” e atitudes similares que, se não devem ser totalmente descartadas, não têm qualquer condão de promover, por si só, a mortificação da carne, mas, ao revés, a exemplo do que ocorria com os fariseus, podem até produzir uma presunção de santidade, uma hipocrisia religiosa que o Nosso Senhor e Salvador mostrou, claramente, durante Seu ministério público, ser algo repugnante e abominável aos olhos de Deus.

– Distinguido entre mortificação da carne e mortificação do corpo, vejamos quais as ações que promovem a mortificação da carne.

 A primeira delas, como indicou Charles Spurgeon no trecho supramencionado e ensinado por John Owen é o autoexame, a pesquisa interior para que observemos quais são as nossas fraquezas espirituais, quais são os pecados ocultos, os mais escondidos em nosso ser.

 É o uso dos “archotes, lanternas e armas” (Jo.18:3) no escuro jardim de nosso ser para localização dos pecados. Devemos fazer a oração do salmista: “Quem pode entender os próprios erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos” (Sl.19:12).

OBS: Eis algumas das orientações a respeito disto que nos dá John Owen: “…Avalie se o pecado com o qual você está lutando é acompanhado de alguns sintomas perigosos;(…) Considere se o pecado está radicado na sua natureza e é exacerbado pelo seu temperamento…” (SANTOS, Morgana Mendonça dos. A perspectiva de John Owen sobre a mortificação do pecado. Disponível em: https://bereianos.blogspot.com.br/2014/09/a-perspectiva-de-john-owen-sobre.html Acesso em 23 dez. 2016).

– Este autoexame exige de cada um de nós duas atitudes importantíssimas. A primeira é a meditação nas Escrituras. Com efeito, somente quando meditamos na Palavra de Deus nos pomos diante do “espelho divino” e podemos contemplar a nossa real situação espiritual diante de Deus (Tg.1:22-25).

 Jesus mesmo afirmou que somos limpos pela Palavra que Ele nos tem falado (Jo.15:3), Palavra esta que nos é constantemente lembrada pelo Espírito Santo que habita em nós (Jo.16:13,14). As Escrituras são o alimento espiritual do homem interior (Mt.4:4; Lc.4:4) e, através da meditação nela, teremos condição de fortificar o espírito e, desta forma, impedir que a carne possa ganhar força no combate espiritual que se instala no interior de cada salvo em Cristo Jesus.

– O autoexame, também, encontra reforço através da oração, porquanto, na oração, nos dirigimos a Deus (Sl.25:1), inclusive confessando as nossas culpas e pedindo a Deus força para enfrentarmos o maligno (Mt.6:13; Lc.11:4). Quando ingressamos, pela oração, no lugar santíssimo (Hb.10:19-22), condição teremos de reter a confissão da nossa esperança e nos fortaleceremos na continuidade da nossa jornada rumo ao céu (Hb.10:23).

– A oração, ademais, pode ser reforçada pelo jejum, que é uma forma de mortificação corporal, mas que somente tem valor em termos de mortificação da carne quando for propositada, quando estiver aliada a algum pedido ou propósito existente na oração. O jejum é um meio de estabelecimento de limites aos instintos corporais, instintos estes que, uma vez descontrolados, dão azo à tríplice concupiscência (concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida – I Jo.2:16,17). É uma forma de bem aplicarmos a nós a ideia de que tudo neste mundo é passageiro, mas que fazer a vontade do Senhor nos faz herdar a vida eternidade.

– Devemos evitar os “jejuns rituais” ou “jejuns cerimoniais”, que tanto eram praticados pelos judeus, notadamente os fariseus, e que foram claramente condenados pelo Senhor (Is.58:3-8; Zc.7; Mt.6:16-18). Não há qualquer valor no jejum em si mesmo, pois, como dissemos, o corpo não é um mal, mas o jejum deve ser feito com o objetivo de se reforçar uma oração e também com a finalidade de se controlarem os instintos, a fim de evitar que haja um descontrole dos instintos.

– Após o autoexame, deve a mortificação da carne fazer um “diagnóstico de riscos” e, verificadas as fraquezas, passar a exercer uma vigilância a fim de deixar todo embaraço, ou seja, toda atitude que, embora não seja em si pecado, seja a criação de uma condição que facilite a prática de um pecado por nós. A vigilância é uma atitude indispensável para quem quer chegar à cidade celestial (Mt.24:13,46; Mc.13:33-37).

OBS: Por sua biblicidade, reproduzamos aqui uma feliz recomendação do antigo Catecismo Romano a respeito: “…é preciso ter “a precaução de evitar, para o futuro, tudo o que motivou qualquer pecado, ou que possa dar ocasião de ofender a Deus Nosso Pai” (IV, XIV,22,2)…”

– Não nos esqueçamos de que a busca voluntária de uma ocasião propícia para a prática do pecado é, em si mesma, um pecado. É uma verdadeira insensatez, pois é o abandono deliberado da prudência, que nada mais é que a ciência do Santo (Pv.9:10) e o Senhor Jesus nos manda ser prudentes como as serpentes (Mt.10:16) e só as virgens prudentes foram as que puderam entrar com o Senhor (Mt.25:10-13).

– A vigilância é fundamental para não entrarmos em tentação, para não permitirmos o triunfo da carne (Mt.26:41) e deve ser acompanhada da oração, que, mais uma vez, surge como atitude necessária para a mortificação da carne. John Owen, em suas orientações, mostra bem a importância da vigilância: “…Analise as ocasiões e as vantagens das quais o seu pecado tem se aproveitado para se manifestar e aparecer, e mantenha-se em guarda contra todas elas; 7- Erga-se decididamente contra os primeiros sinais de atividade e concepção do seu pecado…” (SANTOS, Morgana Mendonça dos. op.cit.end.cit.).

OBS: Conquanto sejam de sacerdotes romanistas, por suas biblicidade, reproduzimos aqui dois importantes pensamentos: “…”Procurar voluntariamente o pecado, não evitando as ocasiões que constituem um grande perigo, é expor-se à queda certa, é um verdadeiro suicídio espiritual” (Pe. João Batista Lehmann); “Pôr-se voluntariamente em perigo de pecar já é um pecado” (Pe. Thomas Morrow).

– Além do autoexame e da vigilância, a mortificação da carne deve ser acompanhada de uma repugnância pelo pecado, de uma consciente compreensão do que representa o pecado.

Como visto supra, Spurgeon considerava quanto o Senhor Jesus sofreu por ter tomado sobre si o nosso pecado.

Ora, se o pecado causou um mal tão grande ao Senhor Jesus, sem que Ele tivesse pecado, quanto não produzirá em nós, sendo pecadores?

Precisamos ter a noção de que o pecado é mau e que devemos aborrecê-lo com todo o nosso coração. John Owen afirmou: “…Considere se o pecado está radicado na sua natureza e é exacerbado pelo seu temperamento; Analise as ocasiões e as vantagens das quais o seu pecado tem se aproveitado para se manifestar e aparecer, e mantenha-se em guarda contra todas elas; Erga-se decididamente contra os primeiros sinais de atividade e concepção do seu pecado…” (SANTOS, Morgana Mendonça dos Santos. op.cit. end. cit.).

– Este aborrecimento do mal gera em nós o temor do Senhor, pois temer a Deus nada mais é que aborrecer o mal (Pv.8:13) e, quando nos tornamos tementes a Deus, aperfeiçoamos a nossa santificação (II Co.7:1).

– Um dos grandes perigos para a santificação de alguém é repetir a expressão tão típica entre os judeus do tempo do profeta Malaquias: “não faz mal” (Ml.1:8), comportamento que o Senhor considerou como sendo “desprezo ao Seu nome” (Ml.1:6). Que Deus nos guarde!

OBS: Oportuna aqui a consideração de Afonso Maria de Ligório (1696-1787): “Tal é a astúcia do demônio: persuade que as tentações estão mortas e quando os homens condescendem com as ocasiões perigosas, apresenta-lhes de súbito a tentação que os faz sucumbir” (Preparação para a Morte, Consideração XXXI, Ponto III apud LOPES, Pe. Divino Antonio, FP. Fuga das ocasiões. Disponível em: http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0030.htm Acesso em 23 dez. 2016).

– Além da consciência de que o pecado é mau, devemos, também, ter a consciência de que somos maus (Mt.7:11), de que o pecado tem origem em nosso coração (Mt.15:18-20; Mc.7:21-23) e, que, portanto, não podemos jamais confiar em nós mesmos e sempre pedir a ajuda do Senhor, de quem dependemos para podermos chegar aos céus.

Só há um que é bom, o Senhor (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19). Esta consciência de nossa malignidade nos faz ainda mais tementes ao Senhor, pois temos noção exata dos nossos limites e, também por este aspecto, chegamos a um aperfeiçoamento de nossa santificação. Como diz Owen:

“…Tenha na mente e na consciência uma percepção clara e duradoura da culpa, do perigo e da malignidade desse pecado; Oprima a sua consciência com a culpa desse pecado; Anele constantemente para ser liberto do seu poder;(…) Medite de tal maneira a estar, em todo tempo, plenamente auto-humilhado e consciente da própria vileza…” (SANTOS, Morgana Mendonça dos. op.cit.end.cit.)

– Com esta consciência, tomaremos três atitudes importantíssimas para a mortificação da carne:

a busca do poder de Deus para nos libertarmos do pecado; a entrega ao domínio do Espírito Santo para evitar que a carne possa prevalecer em nós e a busca incessante da orientação divina para a tomada de todas as decisões.

Isto nos fará recorrer, ainda mais, à meditação nas Escrituras e à oração, por vezes reforçada pelo jejum, pois temos de estar sempre atentos à voz do Senhor e somente teremos discernimento com a voz de Deus se estivermos constantemente em diálogo com Ele, o que se faz mediante a meditação nas Escrituras e a oração. Dizia John Owen: “Dê ouvidos ao que Deus diz à sua alma e não fale de paz consigo mesmo antes que Deus o faça, antes preste atenção ao que Ele diz à sua alma”.

– Elemento importante na mortificação da carne é a busca das “coisas de cima” (Cl.3:1-3), ou seja, termos como prioridade a realização da vontade do Senhor em nossas vidas e a devida valorização das coisas espirituais. Se esperarmos em Cristo somente para as coisas desta vida, seremos os mais miseráveis de todos os homens (I Co.15:19).

Nossa vida está escondida com Cristo em Deus e, por isso, devemos buscar as “coisas de cima”, buscar primeiramente o reino de Deus, que é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17), e a sua justiça (Mt.6:34). Devemos ter a nossa mente voltada para tudo o que é honesto, justo, puro, amável e de boa fama (Fp.4:8).

OBS: Como diz o comentarista bíblico Matthew Henry (1662-1714): “…Buscar as coisas celestiais significa pensar nelas, amá-las e desejá-las.

Nas asas do pensamento, o coração voa mais alto e é levado a objetos espirituais e divinos. Devemos nos familiarizar com elas, estimá-las acima de todas as outras coisas, e preparar-nos para o gozo delas. Davi deu essa prova do seu amor pela Casa do Senhor,; a ponto de diligentemente buscá-la e preparar-se (SI 27.4).

Isso quer dizer estar espiritualmente inclinado (Rm 8.6), e buscar e desejar uma pátria melhor, isto e, a celestial (Hb 11.14,16). Coisas que são da terra estão aqui em oposição às coisas que são de cima. Não devemos idolatrá-las, nem esperar demais delas, para que possamos colocar a nossa afeição no céu.

O céu e a terra são opostos um ao outro, e uma consideração suprema a ambos é inconsistente; a predominância do nosso pensamento em relação a um vai proporcionalmente enfraquecer e diminuir nosso interesse pelo outro.…” (Comentário bíblico completo – Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Degamar Ribas Júnior, p.642).

– Em nossos dias, o adversário de nossas almas tem conseguido afastar muitos da mortificação da carne por meio de pensamentos frívolos, malignos, maliciosos e indecentes, que são rapidamente disseminados pelos meios de comunicação e pelas redes sociais, fazendo com que não só desperdicemos tempo como que nos envolvamos com o que não contribui coisa alguma para a nossa santificação. Já dizia Desidério José Mercier:

“Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.; mortifique seu espírito proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma, e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias” (ibd. end.cit.).

– A mortificação da carne também exige um cuidado todo especial para com a língua, com o falar, pois a língua, como diz Desidério José Mercier, é o “órgão natural do espírito”, tanto que, como bem ensina o pastor Luiz Henrique de Almeida Silva, de Imperatriz/MA, pioneiro nas videoaulas da EBD na internet em nosso país, o máximo envolvimento do crente com o Espírito Santo, que é revestimento de poder, o batismo com o Espírito Santo, se sinaliza precisamente no falar em línguas estranhas, no instante em que o Santo Espírito domina esta última cidadela do ser humano.

Tanto assim é que o salmista afirma: “Quem é o homem que deseja a vida, que quer largos dias para ver o bem? Guarda a tua língua do mal e os teus lábios de falarem enganosamente” (Sl.34:12,13).

– A mortificação da carne quanto a este ponto exige algumas providências, muito bem sintetizadas pelo já mencionado Desidério José Mercier: “Mortifique o órgão natural de seu espírito, ou seja, a língua. Exerça-se de boa vontade no silêncio, seja porque sua Regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente; Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demasiado, que impede os demais expressar seus pensamentos, como o de falar demasiado pouco, que denota indiferença que fere ao que dizem os demais; Não interrompa nunca quem fala, e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta; Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os “muito”, os “extremamente”, os “horrivelmente”, etc.: não seja exagerado em seu falar”; Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedirá conta delas no dia do Juízo”.

– São estes os principais elementos que devemos levar em conta na nossa luta diária e constante para a mortificação da carne, pois, para citar pela derradeira vez John Owen, o grande estudioso deste tema: “…”Mortifique o pecado; seja essa a sua obrigação diária; cumpra-a enquanto viver; não deixe de realizá-la nenhum dia; Mate continuamente o pecado ou ele matará você continuamente”.…” (SANTOS, Morgana Mendonça dos. op.cit. end.cit.).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

 

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